quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Maria e José, juntos no jardim

Faltava alguma coisa no jardim. Por entre o gramado havia uma palmeira, um pinheiro, um pingo de ouro, uma árvore de flores amarelas e outra despida de folhas, ramas de framboesa, uma roseira e uma infinidade de espadas de São Jorge. Mas faltava alguma coisa mais. Olha daqui, olha dali, olha acolá e, quando menos se espera, acompanham-me, no carro, Marilene, uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora e outra de São José. As duas feitas de barro por uma artesã de uma feirinha que ficava próxima da linha do horizonte.

Imagens grandes e suntuosas. Pareciam querer falar. Embora elas tivessem leveza nos traços, pesavam muito. Por mais que estivessem envoltas com jornais e toalhas, era preciso cuidado. Marilene as escorava como podia. Qualquer movimento mais brusco poderia comprometer toda uma espera. Não é de hoje que eu sonho com Santa Maria e São José num altar, rodeado de flores, em pleno jardim. O portão se abre e as imagens, cor de terra, misturam-se ao verde da paisagem.

José, com um ar sério, trazia o menino Jesus no braço esquerdo e um lírio, no direito. Os fios de cabelo davam-lhe vivacidade. E as dobras do manto esvoaçavam ao sopro de um vento abstrato. Já Maria era Nossa Senhora Auxiliadora. Os mantos, a coroa, o cetro. Tudo esculpido com detalhes. Assim como seu esposo, carregava o menino Jesus no braço esquerdo. Pareciam contentes naquele jardim de início de primavera ao meio da cantoria de um pássaro desconhecido.

O sol se pôs vermelho e José e Maria ficaram entre o jardim das framboesas e um céu de estrelas.

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