terça-feira, 29 de setembro de 2009

Padre Amaury, um entusiasta de Nossa Senhora Auxiliadora





Com um porte alemão característico contrastando com olhos de menino, padre Amaury me recebe na porta da residência oficial do arcebispo metropolitano de Brasília, no caso, seu irmão, Dom João Braz de Aviz. Os dois nasceram, com diferença de um ano, em Mafra (comunidade alemã de Santa Catariana, divisa com Paraná) descobriram a vocação religiosa, estudaram e se ordenaram juntos, no dia 26 de novembro de 1972. A vida religiosa os colocou em caminhos diferentes, cabendo a padre Amaury trabalhar com os movimentos de cursilhos e paróquias enquanto seu irmão se dedicaria à formação.

Porém, a mesma vida que separa, une. Sendo assim, há poucos meses, padre José Amaury de Aviz, que atualmente cuida da paróquia Nossa Senhora do Rosário (situada há poucos quilômetros dali), mudou-se para aquela que é uma das primeiras construções do Lago Sul, erguida ainda no governo Juscelino Kubitscheck, num território que atende pelo nome de Península dos Ministros. Uma construção imponente, que surge branca, como toalha de altar, entre o amarelo das touceiras de bambus, o azul do lago Paranoá e uma série de árvores pintadas de verde-primavera pelas chuvas de setembro.

E não é preciso muito tempo ali para perceber a presença de Maria em toda parte. Já no jardim, uma imagem de Nossa Senhora sobre um pilar abençoa os visitantes. Ao entrar, um quadro pintado a óleo retratando a mãe de Jesus invade os olhos. Na capela de adoração ao Santíssimo, localizada no coração da casa, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida convida à oração. “Falta providenciar uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora para cá”, comenta o padre enquanto nos apresenta a casa.

Em uma espécie de sala de estar, detrás de uma mesa de madeira e ao lado de um livro sobre a história de Dom Bosco com uma série de referências a Nossa Senhora Auxiliadora, escrito em italiano, padre Amaury inicia a entrevista, ou melhor, uma boa prosa. Na sala, eu, o padre, Valcir (um amigo em comum, que nos apresentou e se encarregou das fotos) e Nossa Senhora Auxiliadora, que norteava a conversa.

A fala mansa, típica dos habitantes do interior, e os olhos entusiasmados de menino dão ritmo à conversa, que se inicia em Santa Catarina, rompe a fronteira com o Paraná e busca o norte do Estado, uma das regiões mais promissoras do país na década de 50. “As terras do Paraná próximas ao sul de São Paulo, região de Presidente Prudente, eram, naquela época, uma nova Eldorado do Carajás”, segundo o padre. E foi nessa região, mais precisamente em Apucarana, que se deram os estudos e a ordenação dos irmãos Aviz.

A partir de Apucarana, padre Amaury iniciou uma peregrinação por pequenas paróquias de cidades que já enfrentavam o êxodo rural. Cidades em construção como Itaguajé, Cafeara, Santa Inês, Santo Inácio, Colorado. Colorado! Chegamos a um dos principais destinos dessa conversa. Colorado era uma cidade um pouco mais desenvolvida, que trocava o café pela soja. É nessa fase da história que Padre Amaury se encontra com Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira da cidade.

“Foi ali, em Colorado, que conheci um pouco mais do título Auxiliadora. A cidade tinha uma igreja muito bonita, na verdade, uma Basílica. Lembro que o povo de Colorado tinha muito apreço a esse título, que foi disseminado por padres salesianos que participaram da fundação da cidade. Foi nessa época que comecei a promover a espiritualidade em torno de Nossa Senhora Auxiliadora. Nós tínhamos um movimento jovem bem organizado. E junto da população, que ainda tinha forte ligação com o mundo rural, fazíamos sempre referência ao título de Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos durante as celebrações e nossa vida em comunidade”.

A boca silencia e os olhos de padre Amaury ganham as cores e os movimentos da cidade de Colorado, nos idos da década de 1970. E, a partir dessa pequena cidade, redimensiona o tema. “O título ‘Auxiliadora’ tem uma visão universal. Na ladainha de Nossa Senhora uma das invocações se refere à Maria, Auxílio dos Cristãos”. Isto é, a Nossa Senhora motivo de novena e procissão na pequena cidade paranaense era exaltada mundialmente.

“São João Bosco foi um dos principais responsáveis pela divulgação do título 'Auxiliadora'. O curioso é que embora Dom Bosco tenha iniciado sua missão na Europa por volta de 1840, em 1882 esse movimento criado por ele já repercutia na América. O italiano fundador da Pia Sociedade de São Francisco de Sales, conhecido como salesianos, via o continente americano como um continente jovem. E era aos jovens que ele colocava Nossa Senhora Auxiliadora.”

“Vejo o título Auxílio dos Cristãos não tanto como uma glória de Maria, o que ela tem por natureza, mas como uma mãe cotidiana, uma acompanhante do dia-a-dia dos jovens. E o jovem precisa estudar, se formar, trabalhar, ser útil e é Nossa Senhora quem o auxilia nisso. E em Brasília, em especial, os jovens sempre tiveram um papel muito importante no sentido de construção, de transformação, de atuação. Por isso, tanto a referência a São João Bosco quanto a Nossa Senhora Auxiliadora é muito forte aqui”.

“Desde a minha passagem pela Basílica de Colorado os tempos mudaram, mas Nossa Senhora não mudou. Continua Auxiliadora dos que querem ser cristãos. Pensamos que Nossa Senhora Auxiliadora faz tudo pela gente, e realmente o faz junto ao seu Filho, mas precisamos despertar em nós o comprometimento de caminharmos junto dela, de sermos auxiliados por ela”.

“É preciso se colocar na posição de filho e dizer: auxilia-me minha mãe, me ensina, me faz compreender algo que está mais além da visão do mundo de hoje. Precisamos passar de uma sociedade de culpa, de condenação, para uma sociedade de amizade, de alegria por sermos cristãos, colaboradores de um plano comum. ‘Nossa Senhora me auxilia que eu quero vencer na vida’ é uma prece válida, no entanto, precisamos que nossa Senhora Auxiliadora nos ajude a triunfar no reino de seu filho Jesus. É essa transposição que devemos fazer”.

“Junto desse título de Nossa Senhora devemos colocar toda uma pastoral da juventude, toda uma injeção de ânimo que nossa Igreja recebe por meio de novos movimentos, movimentos marianos. Ao jovem é dado o sentido de idealismo. E São João Bosco era tido como o santo dos sonhos. E sonhar com jovem é fazer acontecer. Com o papa João Paulo II iniciaram-se as jornadas mundiais da juventude. Parece que isso não tem nada a ver com Nossa Senhora, mas é importante que voltemos nossos olhos para isso. Porque essa jornada precisa ser feita entre nós, com o auxílio de Nossa Senhora. Isso é o sonho de Dom Bosco”.

Falando em juventude, ‘internet’, ‘blog’, ‘email’ são linguagens jovens. E padre Amaury se mostra interessado por esse novo tipo de comunicação. “Eu estou entusiasmado com o título ‘Auxiliadora’ e um blog, como esse, sem dúvida, ajudará a divulgá-lo ainda mais. Eu sou um aprendiz que quer ocupar seu tempo aprendendo. E é por acreditar nesse projeto que eu o incentivo e quero colaborar com ele. Acredito que quando alguém passar por um blog com esse título, ‘Rainha Auxiliadora’, e ver orações, poemas e outros conteúdos, logo começará a participar. Que o blog possa colaborar com uma catequese, principalmente com a propagação do título ‘Auxiliadora’ no meio dos jovens. Embora seja um título e uma linguagem voltados à juventude, que este blog acolha todos os públicos, das crianças à melhor idade”.

Padre Amaury já havia lido alguns dos meus poemas dedicados a Nossa Senhora Auxiliadora. “Os poemas-orações tem uma posição de homenagem, de elevação e interessam diretamente aos que tem alma poética. São muito puros e fiéis em relação à doutrina, com muito conteúdo. Eles são um convite à reflexão, à meditação, a um ambiente estético bastante apurado. Embora se restrinja a um segmento de visitantes, é uma coisa boa que provoca outras pessoas a mandarem idéias, outros tipos de texto, enfim, a participarem do blog”.



“A educação é coisa do coração e dos corações o dono é Deus, não podemos chegar à coisa alguma se Deus não nos ensinar e não nos puser na mão as chaves para consegui-la.”, diz padre Amaury traduzindo uma frase de Dom Bosco, contida no livro italiano que tem em mãos. E é assim que pede licença para resumir um sonho que dom Bosco teve aos nove anos de idade.

“Ele estava em casa diante de um prado, uma imensa área verde, quando viu uma turma de meninos fazendo algazarra, falando uma série de blasfêmias. Aterrorizado, tentou, aos socos, tirá-los daquela situação. Nesse momento, um homem, de rosto resplandecente, disse-lhe que agia errado, já que tinha de fazê-los amigos sem usar de violência. Vendo a impossibilidade daquela missão, perguntou quem era aquele que lhe falava. ‘Eu sou o filho daquela que sua mãe lhe ensinou a saudar três vezes ao dia’, respondeu o homem. Ao querer saber seu nome, Dom Bosco viu uma senhora ao seu lado, majestosa, com um manto repleto de estrelas. Era a mãe daquele homem. A senhora pediu para que ele olhasse novamente para o prado. Ao contrário de crianças, viu animais ferozes, como cães e ursos. E ela disse ‘este é o teu campo, onde deve trabalhar. Cresça humilde e faça destes animais meus filhos’. Quando olhou novamente ao prado, no lugar dos animais ferozes apareceram ovelhas mansas que chegavam a brincar em torno daquela senhora. Sem compreender o acontecido, Dom Bosco acordou”.

Fechando o livro, o padre traduz agora não o idioma, mas o sentido da mensagem. “Esse sonho nos transmite não só a vocação de Dom Bosco em relação ao trabalho que realizaria junto aos jovens, mas a presença de Nossa Senhora em sua vida. Afinal, é Nossa Senhora quem auxilia desde as simples coisas do dia-a-dia até a evolução humana, transformando feras em inofensivas ovelhas”.

Com esse sonho, uma xícara de café e as devidas bênçãos, eu me despeço de padre Amaury, um entusiasta de Nossa Senhora Auxiliadora e um potencial colaborador deste blog.

texto: Daniel Campos
fotos: Valcir Araújo

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