sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Frei João Benedito, um viajante da fé



Este blog cruzou o Atlântico para conversar com Frei João Benedito Ferreira de Araújo- um franciscano que fala de Maria com bastante propriedade. Conheci o “atarefado” Frei João há quatro anos, durante um almoço no refeitório do Santuário de São Francisco de Assis, em Brasília. Foram poucos os encontros em razão da rotina de trabalho que colocava o frei constantemente na estrada. Em todas essas viagens exteriores e interiores, esse franciscano foi se encontrando com Maria. Conheceu devoções e inúmeros títulos de Nossa Senhora. Atualmente, está na Itália rezando, descansando e se atualizando. Vamos à entrevista na qual esse franciscano que se assume filho de Maria afirma a necessidade Dela, a Mãe de Deus, ser redescoberta no Brasil e no Mundo.

Conte-nos um pouco sobre o senhor.
Eu sou mineiro, nascido em Paracatu. Sou o oitavo filho de uma família onde meu pai morreu logo após o meu nascimento e minha mãe decidiu mudar-se para Brasília e, sem contrair um novo matrimônio, nos criar. Ela veio a falecer quando eu tinha 23 anos.

Contavam-me que desde os cinco anos eu falava em ser padre. Toda a minha família era sempre muito atuante na Paróquia São João Batista do Gama-DF e ali eu fui coroinha, catequista, vicentino, legionário e organista. A minha vida foi muito marcada por aquela comunidade paroquial, seja pela qualidade dos religiosos e religiosas que ali eu conheci, seja pelas boas amizades entre nós adolescentes. Recordo com muito carinho muitas destas pessoas, e nunca esquecerei aqueles que me foram modelos de vida consagrada: Pe. Guilherme, Ir. Carmem, Ir. Margarida, e outras religiosas teresianas. Aquele foi um tempo belo na minha vida.

Quando eu tinha 14 anos eu tive a graça de conhecer o Jardim da Imaculada, na Cidade Ocidental – GO, e foi amor à primeira vista. Fiquei encantado com o testemunho dos frades, me chamava a atenção de um modo especial o Frei Agostinho, que depois veio a ser nomeado primeiro bispo de Luziânia. Logo depois quando fiz 17 anos eu pedi para entrar no seminário. Fiz minha formação no Jardim da Imaculada, em Caçapava – SP e em Brasília.

Depois de ordenado eu trabalhei na revista Cavaleiro da Imaculada, no Instituto São Boaventura em Brasília, fui Custódio Provincial, Ministro Provincial e Conselheiro Geral da Ordem até o momento que eu resolvi renunciar a todas estas funções e tenho agora um tempo para cuidar de mim mesmo.

Como está sua missão na Itália?
Eu já estive na Itália antes, mas sempre viajando. Agora, pela primeira vez, eu vivo na Itália, mais precisamente no norte, próximo a Pádua. Aqui em Camposampiero Santo Antônio viveu os últimos 25 dias de sua vida.

Estou aqui para um tempo de ano sabático. Um período para poder rezar, atualizar-me, descansar, depois de tantos anos a serviço dos outros. A princípio era muito estranho ficar parado depois de anos de agitação, mas depois eu aprendi a saborear este tempo que tem feito muito bem para minha pessoa e vocação.

Vivo num convento com outros 24 frades. Aqui tem dois santuários antonianos, separados por cem metros um do outro. Um é o Santuário da Visão – onde Santo Antônio foi visto com o Menino Jesus nos braços e outro é o Santuário da Nogueira – onde fizeram uma cela para o Santo, e ali sobre a árvore de nogueira ele se dedicou à oração, a terminar de escrever os sermões e ao final do dia o povo vinha para escutar as suas pregações.

Quando sentiu que se aproximava o momento da morte, ele pediu para ser levado para Pádua e morreu no meio do caminho, em Arcella.


Legenda: Santuário della Madonna di Barbana

Qual a importância de Maria em sua vida?
Posso dizer que Maria esta presente em todos os momentos importantes de minha vida vocacional. A memória religiosa mais antiga que tenho da minha vida é da oração do terço e da promessa que fiz a Nossa Senhora de Fátima quando tinha uns sete anos.

Tive a oportunidade de conhecer muitos santuários marianos: Fátima, Lourdes, Aparecida, Guadalupe, Czestochowa, e muitos outros pela América Latina. Em todos eu fiquei muito impressionado, sobretudo em Guadalupe e Lourdes.

No meu processo de discernimento vocacional, aos 16 anos, eu li um livro sobre Guadalupe e desde aquele tempo eu aprendi a rezar a ela todos os dias. E tive a graça de um dia ir ao seu Santuário.

Todas as datas da minha vida religiosa estiveram ligadas a uma festa mariana. E foi no dia de Nossa Senhora de Fátima que eu vim para a Itália, desta vez.

Em resumo, a presença de Maria na minha vida, sobretudo nos últimos meses, onde ela me esteve muito próxima, me fez passar da compreensão dela como Mãe de Jesus e da Igreja, para ser a MINHA MÃE.

Quando foi seu primeiro contato com Nossa Senhora Auxiliadora?
A primeira vez que li e rezei a este título mariano foi quando era adolescente, em Brasília.

Qual o papel de Maria no mundo contemporâneo?
Numa sociedade onde a mulher é sempre mais objeto, Maria vem nos mostrar o valor da mulher: ela tem valor como Mãe e como Virgem, mas, sobretudo, tem valor como pessoa – a Imaculada.
Olhando as famílias, no Brasil e aqui na Itália, eu sempre mais me convenço que é a mulher que tem um papel preponderante no lar: a família depende muito mais da mulher que do homem, basta ver que é mais comum uma viúva sozinha que um viúvo. Assim é o papel de Maria na nossa vida: é a Mãe.

Como em Caná da Galiléia, onde Jesus manda fazer tudo o que ela nos disser, Deus não tem ciúmes de sua Mãe. Ele a escolheu e quer que a queiramos bem. Ela nos ela a Deus, ao seu Filho.
Maria deve ser redescoberta na Igreja e no mundo. Não tenhamos receio de afirmarmos a nossa fé: tenhamos a coragem, a ousadia de nos aproximarmos de nossa Mãezinha.


Legenda: Encontro com Papa Bento XVI na Basílica Superior de Assis

O senhor também tem um blog. Dessa forma, acredita que a internet pode ser utilizada como instrumento evangelizador?
Eu confio muito no poder evangelizador das novas mídias e não podemos deixar de usá-las. Hoje existe um grande número de pessoas que usam a internet, sobretudo jovens e o Brasil é o país que fica mais horas conectado. Não podemos deixar de usar este poderoso recurso na evangelização.

O senhor quer deixar um recado aos internautas?
Enquanto tantos usam a net para pecar, sejamos nós a usá-la para difundir a Palavra de Deus. Ainda acredito que aqueles que vão a igreja, vão porque de algum modo já são evangelizados, a internet é um meio de buscar alcançar aqueles que precisam de um primeiro anúncio, e também aqueles que precisam reanimar ou alimentar a vida de fé e a espiritualidade, sem com isto perder a dimensão da vida de comunidade real, e não somente virtual.

Se você quer saber mais sobre Frei João ou manter contato com ele, acesse:

http://frjoaobenedito.blogspot.com/
As fotos dessa entrevista foram todas retiradas do flickr do frei: www.flickr.com/frjoaobenedito

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